O volume de água das hidrelétricas instaladas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste ficou abaixo da média histórica nos últimos cinco anos, apontam dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Isso é relevante porque as duas regiões são responsáveis por cerca de 70% de toda a energia produzida no país. De acordo com o ONS e com especialista ouvido pelo G1, ainda não há risco de falta de energia mas a situação vem deixando as contas de luz mais caras.
Esse período de cinco anos com volume de água abaixo da média é o mais longo, para as hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, desde a década de 1950, e o segundo mais longo de toda a série histórica do ONS, que começa em 1932.
A redução no volume de água começou em 2014. Aliás, é reflexo direto das chuvas abaixo do normal nas duas regiões. Naquele ano, os reservatórios receberam água equivalente a 67% da média histórica. Assim, chegaram a ficar com nível de armazenamento mais baixo que em 2001. Ano em que o país passou por um racionamento de energia.
O racionamento só não ocorreu em 2014 porque o Brasil contava então com um número maior de termelétricas. Desse modo, substituíram parte da geração hidrelétrica.
Nos anos seguintes, o volume de água que chegou aos reservatórios aumentou um pouco, mas se manteve, até 2018, abaixo da média histórica.
Os dados do ONS apontam para o risco de que o problema volte a se repetir em 2019: os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste receberam água abaixo da média entre janeiro e abril, período de chuva mais abundante nas duas regiões – o período seco vai de maio a outubro.
Situação ‘incomoda’, diz ONS
O diretor geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, disse que os cinco anos de água abaixo da média histórica nas usinas do Sudeste e Centro-Oeste não geram risco de falta de energia neste momento. Mas, segundo ele, a situação “incomoda” porque reflete no bolso dos consumidores.
“Não passa por risco de desabastecimento, mas sim por risco de se ter energia mais cara”, disse Barata. “Estamos gerando [energia nas hidrelétrica] bem abaixo da capacidade”, declarou.
De acordo com o diretor do ONS, a energia gerada na região Norte do país, há diversas usinas disponíveis. As Usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e Belo Monte, no Pará, tem ajudado a atender a uma parte da demanda do Sudeste. Aliás, principal mercado consumidor. Além disso, afirmou, o país tem ampliado a geração por fontes alternativas, como eólica e solar.
Isso, entretanto, não vem sendo suficiente para impedir que as termelétricas, que geram energia mais cara, sejam acionadas com mais frequência. O uso das térmicas faz as contas de luz subirem.
Apesar de os reservatórios de Sudeste e Centro-Oeste continuarem a registrar chegada de água abaixo da média em 2019, o diretor geral do ONS afirmou que não há preocupação. Afinal, não houveram problemas com o abastecimento neste ano.
“Para 2019, as avaliações nos deixam com conforto. Nossa expectativa é chegar ao final do ano sem grandes problemas”, afirmou.
Hidrelétricas e os leilões de energia
Para Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, que acompanha o setor elétrico brasileiro, a situação das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste não chega a ser preocupante, mas “relevante”.
“Os reservatórios estão trabalhando em níveis mais baixos que o desejado, e a produtividade de uma hidrelétrica está ligada ao nível do seu reservatório”, apontou.
“Isso resulta num acionamento mais frequente de usinas com custo operacional mais caro, como as termelétricas”, afirmou.
Para Sales, as autoridades do setor elétrico precisam considerar essa realidade ao planejar a expansão da estrutura de geração de energia no país.
“O governo deve definir critérios para os leilões de energia que valorizem os atributos das diferentes fontes, não somente o preço”, disse. “A evolução da matriz deve ser para uma maior eficiência, para evitar o encarecimento [das contas de luz].”